Rei Pelé. Rei Roberto Carlos. Rainha dos baixinhos. Princesa dos adultos. Bobo da corte de não sei lá das contas. Parece até que a gente vive numa monarquia, mas uma monarquia em que há rei para todo lado, em todo canto, até embaixo do sofá, como os deuses na Antiga Grécia.
Rei do futebol. Rei da política. Rei dos patins de quatro rodas. Rei da mesa. Rainha do nado sincronizado... Como nós temos anseio de criar mitos humanos, com os quais nos identificamos! O Pelé, por exemplo, eu já o acho o máximo sem nem mesmo tê-lo visto jogar.
Basta o Milton Neves e o Fernando Fanucci repetirem todo domingo que “ele é genial, sem comparação”, que eu já crio uma pré-opinião sobre o eterno camisa 10 do Santos. Jamais ouvi um brasileiro sequer dizer que “o Pelé não era lá essas coisas”. “O Pelé era um cara que jogava fácil, fácil, agora, o Zico mandava muito mais. Sem dúvida”. Deve haver um artigo na Constituição Federal que proíbe qualquer cidadão de condená-lo. Punição: viagem só de ida para iniciar a colonização em Marte. Vou pesquisar um pouco mais sobre isso.
Posso estar enganado, mas boa parte dos que vangloriam o Pelé, o faz muito por causa de toda pressão e afirmação da imprensa. Que ele foi um belíssimo jogador, não questiono, senão não haveria esse auê todo ao redor dele, mas ser alguém acima do bem e do mal... ser um mito incontestável... ser um fenômeno inexplicável, que fazia tremer qualquer adversário...
O Roberto Carlos (o cantor), por exemplo, apesar de não ser da geração dele, gosto das músicas, de verdade. Tenho algumas canções. Mas, rei da música brasileira, logo aqui, onde ferve cultura em qualquer esquina! Penso que o Brasil é tão abençoado no que diz respeito à cultura, que é impossível eleger apenas um artista soberano.
Em um regime republicano presidencialista, o elogio supremo poderia ser: “esse cara é o presidente do futebol. Joga como ninguém”. Fica até mais de acordo com a rotina nossa. Para alguém um pouco abaixo, mas ainda bem talentoso, admirável, poderia ser um vice-presidente, um ministro. Talvez empregar a essas celebridades apelidos relacionados a uma monarquia seja uma ofensa e eu mesmo nem tenha me dado conta.
O Romário já é um atleta mais contemporâneo, embora tenha se despedido dos gramados. Eu tinha em casa uma fita com alguns dos maiores gols e jogadas dele (lembra quando, no Flamengo, entortou o Amaral?). Assistia uma vez por semana. Era demais. Poderia chamá-lo de presidente do Senado. Não é o presidente da república, mas é o do Senado, uma casa parlamentar muito importante para a nação. É capaz de ajudar (e ajuda) a definir os nossos rumos. Por isso, ele ganhou uma estátua de bronze em São Januário (com essa confusão na política vascaína, nem sei se ela foi retirada- creio que não).
Veja a Xuxa, rainha dos baixinhos. Confesso que assisti a muitos programas dela quando eu era garoto, muitos mesmo. Talvez mais por força dos desenhos. O caso é que nunca me senti como membro de um povo governado por ela. Acho que gostava até mais do Roberto Bolaños e dos episódios do Jiraya do que da própria rainha.
No fundo, apostaria que o verdadeiro monarca é a imprensa, que impõe mitos aos súditos. Decidi fazer uma revolução e trocar de canal durante os programas do Milton e do Vanucci. Acho que vou assistir à Record, monoteísta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário