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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Cocada recheada de humanismo


Em menos de dez minutos, três vendedores ambulantes entraram no ônibus parado no terminal. Praticamente todos os bancos cheios às 16h30, quase horário do lanche. Boa chance para eles venderem, não a mim, que ainda nem tinha almoçado. Preferi aguardar mais um pouco para comer feijão e, como diz mamãe, ficar mais fortinho.

O primeiro dos vendedores foi um homem, de mais ou menos 30 anos. Subiu com duas sacolas. Uma verde cheia de doces variados e a outra branca, só com pipocas.

"Cinco mariola, um Real; dois Batom, um Real; duas jujuba, um Real; duas pipoca, um Real; dois amendoim, um Real".

Só efetuou uma venda após ir ao fundo do ônibus e voltar. Uma criança de aproximadamente 4 anos se interessou pelo chocolate. A mãe perguntou ao marido, pelo menos parecia ser, se havia algum trocado com ele. Sim, havia. Compraram os Batons para a menina.

O vendedor continuou:

"Cinco mariola, um Real; dois Batom, um Real; duas jujuba, um Real; duas pipoca, um Real; dois amendoim, um Real ".

Sem sucesso, ficou mais algum tempo ali e saiu do ônibus. Disse um "boa tarde" daqueles bem chulos e desceu contando algumas pratinhas. Não havia mais do que dois Reais.

Logo depois, como se a manobra fosse detalhadamente ensaiada, subiu uma senhora de mais ou menos 55 anos. Vendia praticamente as mesmas coisas. Transitou até o meio do coletivo e voltou oferecendo doces à mesma criança, que ainda comia o Batom branco (o preto fora devorado).

Por fim, também sem grande demora, apareceu uma outra senhora. Devia ter em torno de 45 anos. Sorridente, deu um "boa tarde" daqueles com gosto, ao qual temos a vontade de responder, como muitos fazem com o William Bonner. Ela vendia cocadas, só cocadas. Boas, por sinal. Tive a oportunidade de conferir a qualidade há poucos dias.

Em vez de oferecer os produtos de forma mecânica, a senhora (cujo nome prometo descobrir da próxima vez) conversava com os passageiros, sempre com voz meiga e um doce sorriso. Deve ter vendido umas cinco cocadas, de vários sabores. Foi tão habilidosa, que conseguiu vender até cocada de abacaxi!

Quando o motorista do ônibus chegou, a senhora se retirou, mas antes, assim como o rapaz, o primeiro vendedor, disse um "boa tarde", acrescentado de um "vão com Deus e muito obrigada".

Embora tenha sido a última pessoa a entrar para nos oferecer o que comercializava, foi a que mais obteve êxito. Não apenas vendeu cocadas, deixou ali um ambiente mais agradável a quem estava num momento zero, improdutivo.

Quem gosta de esperar o ônibus sair? É a mesma coisa que esperar na fila do banco, onde pelo menos há ar condicionado, funcionárias bem selecionadas (entende bem selecionadas?) e, às vezes, televisão. No caso do Banco Real, há cadeiras e água gelada para esperarmos enquanto outros são atendidos.

Mesmo assim, a simples senhora, humilde e socialmente desprivilegiada, conseguiu o que queria. Mais do que isso, o bom trato fez com que os passageiros se sentissem melhor. Todos ganhamos.

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