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terça-feira, 14 de outubro de 2008

Heureca

Antes mesmo de a Sociologia ser introduzida no Brasil, os profissionais da área tentam desvendar a nossa identidade e solucionar questões peculiares do país (vide as teorias importadas). Até hoje, querem compreender processos contraditórios, como o “sucesso” do crescimento econômico aliado à expansão da miséria. Querem compreender como o Estado não quebra com tantos “batedores de carteira”. Criticam a forma de pensar do brasileiro, sempre muito passivo.
Pensam, pensam, pensam (fumaça!), mas... não encontram uma resposta convincente para todos esses temas pré-históricos. Muitos de nós depositam a salvação (!) nos estudos. Dizem que a escola e a universidade seriam capazes de colocar o Brasil na trilha do inchegável primeiro mundo, não apenas da economia, mas da moralização, do respeito e das boas atitudes voltadas ao coletivo.
O sonho do país do futuro, aliás, voltou à moda ano passado depois que a Petrobrás anunciou a descoberta de uma bacia imensa de petróleo e gás natural no campo de Tupi, em Santos. O biodiesel tem sido outro motivo para tamanha euforia.
Durante os primeiros anos da década de 70, o entusiasmo do “milagre econômico” prometia ao Brasil uma posição de destaque entre os maiores países do mundo, aguardada pelo menos até a produção desta crônica. Os índices de crescimento do PIB ultrapassavam os 10%. Atualmente, em contrapartida, o nosso crescimento é um dos mais baixos da América Latina, girando em torno de 4,5% e 5%.
São por causa de experiências como esta que o capítulo do país do futuro precisa, penso eu, ser relido com mais cautela e trabalhado com mais afinco, inclusive pela imprensa, que muitas vezes age de forma irresponsável.
O presidente Lula declarou recentemente no programa de rádio Café Com o Presidente que “o Brasil está preparado para um grande ciclo de crescimento sustentável”. Esta frase não parece familiar? Seria a mesma frase dita por ele todo final de ano desde 2003?
O volume de dinheiro que circula no país já é o suficiente para promover uma qualidade de vida bem superior do que a realidade enfrentada pela maioria das pessoas. Alguém divida disso? Por outro lado, mais capital, aqui, não significa melhor distribuição de renda (novidade, não?).
Se a educação é capaz de dar uma nova roubagem, digo, roupagem ao Brasil, como explicar o envolvimento de pessoas com diploma universitário em esquemas de corrupção (alguém falou em Operação Satiagraha?)? Como explicar deslizes de condutas de padres, que deveriam ter uma formação moral quase impecável?
Embora não sejam todos eles, a educação oferecida hoje em dia é ineficiente, sem dúvida. Os colégios, de um modo geral, apenas ensinam a passar no vestibular, assim como as empresas de auto-escolas só ensinam a obter a carteira de motorista. Depois você aprende a dirigir. No caso do colégio, nem todos aprendem mais tarde.
A segunda opção de resgate do Brasil seria a família, mas esta instituição não anda cumprindo muito bem a função dela. Parece um pouco perdida nesta época confusa, em constante mutação.
A terceira via seria o próprio indivíduo, mas este por si só recusa-se a fazer qualquer alteração que o beneficiaria.
Mesmo com tantos livros, teses, estudos e discursos, a fórmula do Brasil civilizado e evoluído permanece um enigma. Permanecia, porque eu a revelo agora: uma viagem ao espaço. Só isso! Pronto! Simples assim!
Quem revela, na verdade, não sou eu, mas os astronautas, inclusive o Marcos Pontes. Todos eles confirmam que a viagem ao espaço deixa o ser humano mais sensível, mais tolerante. Temas como o conflito entre etnias e a corrida desesperada pelo “progresso” tornam-se pequenos aos olhos de quem vê tudo de longe.
O comentário a seguir é do astronauta brasileiro logo após voltar da Estação Internacional Espacial: “Percebemos que somos muito pequenos perante ao Universo. Não há motivo para tamanha discriminação”.
Se tal efeito, de fato, atingir todos nós seria um ótimo investimento o governo federal financiar passagens espaciais para cada um dos mais de 180 milhões de brasileiros. Para alguns de nós, quem sabe os de colarinho branco, o Estado poderia custear um pacote especial: uma passagem só de ida na poltroninha da janela. Um presente para eles... e para nós também!

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