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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

E-mail de bêbado não tem dono

Texto do Bruno Medina, integrante da banda Los Hermanos e editor do blog Instante Posterior.

Esta, imagino, muita gente vai achar que é invenção. Eu mesmo, quando li a notícia, precisei me certificar de que não se tratava de mais uma daquelas pegadinhas que volta e meia surgem com o intuito de confundir jornalistas da seção de informática. De fato parece difícil compreender a motivação que levou os programadores do Google a desenvolverem uma ferramenta de aplicação e eficiência tão questionáveis, um recurso que visa proteger seus usuários…de si mesmos!

Sexta-feira, 4:20 da manhã. Você acaba de chegar em casa da balada e, antes de deitar, resolve dar uma conferida nas notícias do dia que está prestes a começar. De repente bate uma inexplicável vontade de se expressar, de dividir com o mundo os sentimentos sufocados pela razão, aquelas verdades que não costumam ter qualquer chance de serem ditas quando você está sóbrio.

Tá bom, você bebeu um pouco, e daí? Nem por isso o que tem a dizer deve ser desconsiderado, pelo contrário, escrever para alguém, dadas as condições, só endossa a urgência de tais palavras. Afinal existe momento mais apropriado para enviar um e-mail para a ex-namorada? Não, por isso é hora de aproveitar o ensejo e mandar bala.

Em linhas gerais você declara que nunca a esqueceu. Que vive perambulando pela noite, passando o rodo, que inclusive já até pegou uma amiga dela, no entanto, nada diminui a saudade que sente. Admite que quando namoravam não soube dá-la o devido valor, que nunca conseguiu ser fiel, mas que agora, pelo menos, percebe a besteira que fez. Para não perder a viagem e fechar com chave de ouro, chama o atual namorado dela de “babaca” e ainda diz ter certeza de que ele também não a merece, porque sempre o vê pelos bares muito bem acompanhado. Pronto. Posto isto vai dormir leve como uma pluma.

Por volta de uma da tarde acorda com a boca seca, dor de cabeça e uma vaga lembrança de ter passado pelo computador no caminho para a cama. Abre o programa de e-mail, checa a pasta de itens enviados e já se arrepia só de ler o nome do último destinatário. Tarde demais. Caso a situação lhe pareça de algum modo familiar, se já mandou ou recebeu um e-mail destes, foi para ajudar pessoas como você que se criou o “mail goggles”.

A principal função deste aplicativo é fazer com que seus usuários pensem um pouco antes de enviarem mensagens durante o período da madrugada. Quando habilitado, o botão “send” da caixa de saída fica indisponível até que se resolvam -em curto prazo de tempo- cinco problemas matemáticos simples (o grau de complexidade das operações pode ser alterado).

A aposta dos engenheiros do Google é que, ao dificultar o envio de e-mails, evitem o arrependimento comum entre aqueles que se encontram bêbados demais para discernir sobre o teor do que escreveram. Caso o remetente não consiga multiplicar cinco por sete é bem provável que pela manhã agradeça ao Google. Perguntado sobre a inspiração que resultou na esdrúxula engenhoca o responsável alegou estar apenas atendendo ao pedido de alguns conhecidos e garantindo que ele próprio pare de mandar e-mail embaraçosos.

O invento é uma espécie de lei-seca virtual, um mecanismo de auto-censura que impede desastres emocionais. Seu nome remete a uma gíria em inglês que descreve aquele curioso efeito responsável por tornar as pessoas mais bonitas depois que tomamos alguns copos. Se funciona ou não, é testar pra crer. Só espero, pelo bem da humanidade, que não inventem algo semelhante para ser usado nos bares.

Complemento:
Confira também uma matéria da seção Digital, do Globo Online. Clique aqui.


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