"Melhor do que ler a coluna do Veríssimo num domingo ensolarado de manhã, esperando a chegada do café para pular na piscina, é ler o Letras e Harmonia a qualquer hora em qualquer lugar", Zé- operário.



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terça-feira, 14 de outubro de 2008

Caneta também é gente

Poucas vezes utilizo uma mesma caneta mais do que duas ou três vezes. Sempre as substituo por outra, ainda que a tinta da última não tenha terminado. Acredito que eu não seja o único a abusar assim delas, cujo afeto com cada dono costuma ser mínimo, quando há.

Em geral somos frios e indiferentes com um objeto tão útil e presente sempre em momentos importantes da vida: reuniões empresariais, salas de aula, boates (é fato que os celulares, hoje em dia, registram os contatos da parceira- ou do parceiro- mas a caneta já fez muito pela manutenção dos nossos relacionamentos- amorosos ou não), etc.

Há um pequeno grupo de pessoas que pagam altos valores por uma caneta, com a qual permanecem um longo período da vida. São canetas de ouro, brilhantes e chamativas. Não encaixam-se no meu caso, nem no meu bolso. Sou um cafajeste.

Poucas vezes gastei um centavo com as canetas que utilizo. Quando não as ganho, peço emprestado e não as devolvo, o que prova um descaso por parte do dono original, que não cobra o objeto de volta. Bom para mim.

Em média, saio com uma caneta a cada três dias. Sou um garanhão de canetas. Pego mesmo. Não me importo. Me divirto. Se as canetas fossem mulheres, eu seria uma celebridade, daria curso de sedução. Matérias? Sei lá, talvez Conquista de Loiras em Shoppings, Técnicas de Beijar Morenas em Terminais Rodoviários II, Lábias Específicas Para Ruivas e Negras Na Palma da Mão III.

Infelizmente, este não e o caso. Na verdade, sou um insensível, incapaz de permanecer uma semana com a mesma caneta. E olha que elas presenciam altas situações. Se canetas ouvissem e falassem, eu discutiria o conteúdo de matérias com elas, pediria conselhos e debateria o futuro da espécie humana. Tudo "ia" , porque elas não falam nem ouvem.

Pode ser que este seja o motivo da forma como as trato. Além disso, embora sejam úteis, há abundância delas no mundo e a conquista não impõe obstáculos.

Mesmo assim a caneta é mais do que um mero objeto qualquer. A caneta é o elo entre a intenção do cérebro e a concretização da mensagem escrita. Seria, portanto, como lembra o canadense Marshall McLuhan, extensão do homem. A caneta ajuda a potencionalizar as nossas capacidades.

Depois de refletir, sinto a necessidade de ser mais compreensível com as canetas (ou com apenas uma delas). Espero uma atitude semelhante do leitor. Aquela faz parte da nossa vida, é uma companheira, algo que poderíamos chamar de alguém.

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