"Melhor do que ler a coluna do Veríssimo num domingo ensolarado de manhã, esperando a chegada do café para pular na piscina, é ler o Letras e Harmonia a qualquer hora em qualquer lugar", Zé- operário.



Contato:
brunolara_@hotmail.com

sábado, 29 de novembro de 2008

Nota

Pessoal,
esqueci de dizer que a poesia publicada no fim do último post foi retirada do site Memória Viva. Lá, há diversas outras, algumas delas têm áudio com o prórprio Drummund as recitando. Clique aqui para acessar a página.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Homens de gabinete


Sempre escutamos incentivos de todos os lados para lermos livros. Todos, de qualquer assunto. Neles costumam estar palavras de sabedoria, de quem entende muito ou um pouco de determinada questão. Quem lê, conhece mais, sabe mais.

Disso, não há dúvida, mas pode ser que só a leitura não seja o suficiente para viver, para saber se virar e aprender. Após anos e anos de muito estudo, René Descartes descobriu que a vida é feita de mais do que centenas de páginas coladas umas nas outras protegidas por capa. Ele preferiu a experiência, um outro tipo de contato com a vida. E condenou o que chamou de homens de gabinete, os que dedicavam-se intensamente aos afazeres teóricos. Descartes largou uma vida de estudos para andar, viajar, conhecer de outro ângulo, sem filtros (que seriam os livros).

Melhor do que ler histórias de aventureiros pelo mundo, é conhecer os lugares por onde eles passam. É comer alimentos típicos de cada lugar; é conversar pessoalmente com os nativos, aprender, mas também ensinar. Melhor do que ver fotos do Pantanal e ler sobre, é estar lá. Ver de perto cada animal, comer frutos da região, pular nos rios, respirar o ar fabricado ali, por máquinas divinas, belas, benéficas e perfeitas.

Um intelectual acostumado com ternos, gravatas, salas bem equipadas e linguajar rebuscado, torna-se um patinho quando sai da cápsula. Não sabe subir numa árvore para pegar jabuticaba, nem comer manga sem talheres especializados, muito menos passar despercebido, o que é muito natural.

Isso não se resume aos intelectuais, mas estende-se aos grandes homens de negócio. Passam o dia preocupados com as bolsas de valores, com a cotação do dólar, em ampliar e aplicar os lucros, além de conquistar apoio no Congresso. Pobre rico, mal consegue apreciar e se emocionar com uma simples poesia do Drummond.


Amigos, só para aproveitar a deixa, publico uma poesia do Drummond:
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

quem, eu?


Eu prometo contar um segredo desde que você garanta que não vai revelá-lo para ninguém, mesmo sob intensa pressão. Posso confiar? Mesmo? Eu assisto ao Big Brother Brasil. Sim, este é o tipo de confissão que deve ser feito só depois de muito pensar e saber as conseqüências, porque as críticas não perdoam. Alguém que diz assistir a programas como esse, pode ser visto com olhos não muito agradáveis. Não sou aquele fanático, mas gosto.

"Pra assistir a isso, tem que ser muito à toa". "É perder tempo demais." O que esperar de alguém que aprecia esses reality shows?" Nem quero pensar o que será de mim caso essa informação chegue à faculdade, onde estudamos autores cabeças, como Muniz Sodré, Edgar Morin, Bauman, Zuenir ventura, Platão, Pierre Lévy. Vão me olhar atravessado, com aquele jeito de "nossa, o Bruno é muito fútil mesmo!"

Acontece a mesma coisa com quem mora numa zona urbanizada e diz gostar de sertanejo. Um número grande de pessoas ouve, mas nega nas rodinhas sociais. "Quem, eu? Sertanejo? jamais". O preconceito está aí, muito afim de destruir os gostos populares. O pior é que eu moro numa zona urbanizada e gosto também de sertanejo.

Poucos sabem, pois disfarço. Escondo os CD’s e faço aquela cara de nojo quando o Teodoro e Sampaio estão na TV. "Será que não podiam levar o Raimundos não, pô? Eu gosto mesmo é de pauleira". Com essa frase padrão eu tenho conseguido eliminar qualquer suspeita sobre mim.

Situação bem semelhante a dos eleitores do Serra em 2002, quando ele disputava a presidência contra o Lula. Ai de quem revelasse votar no candidato do PSDB. Adivinhe para quem eu torci (hoje acho que torceria diferente). Na ocasião, porém, fui firme e gritei para o mundo: "aprovo ele mesmo e daí?" Até discuti com uma professora de História. Foi divertido.

Pouco mais de um mês para o início de mais uma edição do BBB (se não me engano a edição de número 9), a imprensa já começa a falar, especular. Muito espaço da mídia será dedicado ao passado, presente e futuro dos participantes. Vários debates.

Eu não chego a tanto, mas sempre preciso encontrar desculpas e ocultar o gosto pelo reality show. Já estou prevenido. Ano que vem, vou dizer que durante a exibição do programa, costumo ler Camões e Machado de Assis. Conto com a sua colaboração em nada revelar!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Aos poucos leitores, uma satisfação:

A falta de atualização é culpa do estilo de vida pós-moderno. Assim que reencontrar a Idade Média postarei novamente, já que há crônica em construção.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Blogosfera


Olá, pessoal!

Gostaria de recomendar a compra da revista Época desta semana. A matéria de capa fala sobre blogs e divulga 80 dos mais lidos do país e do mundo ( o Letras e Harmonia não está lá- que maldade!).

Eis alguns deles:

Ah! TriNé! :
ahtrine.com.br

Blog do Alon:
blogdoalon.com.br

Blog do Noblat:
oglobo.globo.com/pais/noblat

Brogui:
http://www.brogui.com/

Contraditorium:
http://www.contraditorium.com/

Paulo Coelho:
www.g1.com/paulocoelho

Marcelo Tas:
marcelotas.blog.uol.com.br

Manual do cafageste:
http://www.manualdocafageste.com/

Letras e Harmonia:
letraseharmonia.blogspot.com (este é por minha conta, só para reparar o equívoco).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Viva a bicicleta


Há alguns movimentos no Brasil que pregam a valorização da bicicleta. Pessoas comuns e grupos organizados tentam promover hábitos diferentes, privilegiando a qualidade de vida, o bem-estar, a redução dos danos ao meio ambiente e a implementação de uma sociedade mais motivada e comprometida consigo mesma.

É com esse objetivo que está acontecendo neste momento a Conferência Internacional de Mobilidade Por Bicicleta, em Brasília. A proposta é mais do que utilizar a bicicleta como meio de passeio nos fins de semana. É fazer com que nas cidades as pessoas se locomovam para os mais diversos lugares (faculdade, trabalho, padaria, motel - não, motel não) em cima de uma bicicleta. A gente só tem a ganhar.

Sem dúvida o carro é muito, muito importante, mas em vários casos ele é utilizado sem necessidade. Apenas como comodidade e afirmação de uma identidade irrelevante. É aí que começa o problema, porque causa um inchaço terrível nas grandes e médias cidades. Em São Paulo, quem não tem helicóptero (deve ser a maioria) precisa sair de casa com duas, três horas de antecedência para chegar ao local do compromisso na hora certa. O estresse já começa de manhã. Ruim, né?

Acho que está mais do que provado que a ânsia pelo "desenvolvimento" e a destruição irracional do meio ambiente não podem ser mantidos sem o fim da nossa espécie e de tantas outras (talvez mais importantes). Não dá mais para fabricar carros sem levar em conta que o petróleo acaba e que a atmosfera sofre com a emissão de gases.

Um ótimo exemplo vem de São Paulo, a cidade que sofre com os piores congestionamentos e sabe o que significa o excesso de cimento. O prefeito de lá, Gilberto Kassab, deve criar 100 km de ciclovia em 2009 na cidade. Esse número pode ser ampliado para 1.000 km até 2018. Já é um início.

Uma das mais conhecidas defensoras da bicicleta é a vereadora Soninha. Lembro que em setembro no debate da Band pela prefeitura, ela foi pedalando, à noite, para o confronto de idéias contra o Maluf, a Marta e o Alckmin, entre outros, que chegaram em carros bem caros com vidros escuros e jogando fumaça para o alto. Freqüentemente, a Soninha (que também já jogou fumaça para o alto) vai de bicicleta às sessões na Câmara. Ela utiliza aquela bicicleta flexível e viaja sem problemas pelos metrôs.

Tomara que essa cultura pegue no Brasil. Só quem perde são as indústrias automobilísticas e as marias-gasolina. Não faz mal, os empresários migrarão para o setor das bikes, criando e aperfeiçoando produtos relacionados.

As marias-gasolina também saberão se adaptar. Por falar nisso, gostaria de aproveitar a situação para informar que a minha bicicleta tem 21 marchas.
Obs: a imagem é uma caricatura da vereadora Soninha. Não sei quem produziu, deve ter sido a equipe de campanha dela.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sutil distorção

Responda rápido:

Quantos e quais foram os candidatos à presidência dos Estados Unidos? Barack Obama e John MacCain? Não. Ao todo 21 candidaturas concorreram à Casa Branca, mas nós só conhecíamos os dois nomes citados acima. Isso porque a imprensa esqueceu de fazer uma cobertura mais ampla e fiel das eleições. Clique aqui saber quem foram todos os candidatos e os eventuais respectivos vices.

domingo, 9 de novembro de 2008

A boa de hoje? Política.


Basta navegar um tantinho de nada pelo Letras e Harmonia para perceber o lado político (apartidário) do blog. Isso porque eu gosto bastante desta atividade, não pelas distorções que fazem dela, pelo contrário. É a política que é capaz de mexer com a gente; com a regulação social; que pode baixar os preços dos alimentos e dos livros; que pode criar praças arborizadas nas cidades para promover a qualidade de vida; entre uma infinidade de coisas. Acredite na política.

Quem deve participar das discussões sociais, cobrar as autoridades, que apesar da arrogância, são funcionários nossos, e exigir políticas públicas adequadas? Todos, mas principalmente a juventude, pela nossa essência contestadora. Se a gente delega a qualquer um (e agimos muito assim) a tarefa de fazer política, cometemos um erro muito grave. Entregamos a vida coletiva a quem não merece administrá-la.

Antes de vivermos essa crise financeira mundial, vivemos uma crise humanitária também global, em que o respeito é mais mito do que Papai Noel. Há poucos dias publiquei aqui uma declaração do sóbrio escritor José Saramago. Para ele, o altíssimo volume de dinheiro público (público sim) liberado pelo Estado para salvar bancos não sairia do cofre caso o destino fosse salvar vidas. E não sairia mesmo, como não sai.

A eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos criou o "efeito Obama", que anima os movimentos sociais mundo afora. A África, principalmente o Quênia, origem da família paterna do presidente, está eufórica e esperançosa quanto às eventuais políticas em benefício da região. Por conta do resultado da eleição estadunidense, o governo queniano vai instalar luz elétrica na localidade onde mora a família. Onde carne é luxo, a população local fez churrasco no dia seguinte ao resultado. Um coitado de um boi inteiro foi sacrificado em comemoração à vitória do candidato deles.

A sensação de melhoria está por aí. A emoção nos EUA após o resultado da eleição foi comparada pelo embaixador Alberto Luiz Fonseca, que estava na Califórnia, a um partida de futebol:

"Aí veio o discurso do Obama, eles colocaram som nas TVs, todo mundo no (antes) barulhento bar parou para ouvir. O restaurante estava cheio, alguns ficaram de pé e foram ouvir de perto. Dentro do lugar, comoção geral, um momento histórico para a nação; lá fora, carros buzinando na rua como se fosse dia de jogo de futebol!"

Mas como diz o poeta espanhol Antônio Machado, o caminho se faz caminhado. Barack Obama tem um cardápio de desafios na mesa dele. Ele terá prioridades e precisa desde já saber como encontrar soluções. Quem elegeu Obama foi a população estadunidense, mas o mundo sente que está sob tutela dele (não vejo isso com bons olhos).

Em 2002, quando o presidente Lula venceu e eleição para presidente, uma nuvem de esperança e otimismo parou no Brasil. Logo no início do mandato, ele lançou o Programa Fome Zero e declarou que estaria satisfeito se nenhum brasileiro passasse fome quando deixasse o Palácio do Planalto. Lula vai completar o ciclo de oito anos e muita gente estará ainda em situação ruim.

Certamente Obama também deixará a desejar em muitas questões, porque não é fácil agradar a todos que aguardam uma resposta positiva dele. Há problemas externos, como o relacionamento com a Rússia e com o Irã, além da guerra do Iraque. Há a crise financeira. Há a Rodada de Doha, que não tem saideira. Além disso, há os problemas internos, os mais importantes da agenda, com certeza. Ele é norte-americano, como declarou. Foi eleito presidente dos Estados Unidos e não do mundo inteiro. A função primeira de Obama é recuperar o Tio Sam.

Tanto Obama quanto Lula são incapazes de realizar sozinhos qualquer política Eles são como pontos de referência, mas a sociedade também precisa fazer a parte dela, não apenas lançar as responsabilidades sobre o colo das autoridades. Não se faz política apenas através de cargo eletivo e sendo funcionário do governo. Talvez a parte mais superficial de participação política seja a eleição, porque se inexiste estrutura e modelos confiáveis, transparentes e de credibilidade, pessoas incompetentes e predadoras serão candidatos e eleitos por outras despreocupadas.

Cada um de nós é necessariamente um ser político e recusar este papel é recusar também a existência humana em convívio harmônico na sociedade, que está em construção, em fase de transformações. Essas mudanças vão nos levar a algum lugar. Melhor que seja para onde desejamos.

Mercado x Estado? Não, Mercado + Estado = bem-estar e progresso

"A crise é conseqüência da crença cega na auto-regulação dos mercados; é o momento para uma mudança substantiva na arquitetura financeira mundial" - presidente Lula, ontem, na reunião do G-20 Financeiro.

sábado, 8 de novembro de 2008

Haicai não é de comer


Conversando ontem com uma amiga da faculdade, ela revelou o tema da monografia dela: uma associação entre o haicai e o discurso publicitário.

Em vez de fazer aquela cara de entendido e sábio, preferi assumir a ignorância e perguntar o significado do raio do harcai. Ela explicou que é um tipo bem específico de poema japonês, que se espalhou pelo mundo inteiro, inclusive pelo Brasil. A estrutura é muito curta, com versos mínimos, mas que revelam uma sutileza e uma capacidade de observação privilegiada dos autores.

Ela mandou para mim alguns dos poemas inseridos na monografia, que ainda está em andamento, mas na fase final. Decidi compartilhar com vocês:

"furu ike ya / kawazu tobikomu / mizu no oto"
(Matsuo Basho)
Literalmente tem-se a tradução: o lago antigo, o som da água da rã mergulhando.

"Imersa em neblina
A cidade se reveste
De um tom de nostalgia
"
(Delores Pires)

"Procurando pouso
Na rua movimentada
Borboleta aflita
"
(Edson Kenji Iura).

"Sutis vaga-lumes
Acendem suas luzes
Baile na floresta
"
(Olinda Marques de Azevedo).

"Hoje à noite
Até as estrelas
Cheiram a flor de laranjeira
"
(Paulo Leminski).

"Duas folhas na sandália
O outono
Também quer andar
"
(Paulo Leminski).

"- O senhor cultiva
Epigramas?
- Não, só a grama de meu jardim
"
(Carlos Drummond de Andrade).

"Com pó e mistério
A mulher ao espelho
Retoca o adultério
"
(Millôr Fernandes).

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Paraíso discreto


Torço para que o mundo não descubra Minas Gerais, como descobriu o Brasil, como descobriu a Amazônia e mais recentemente Bonito, em Mato Grosso do Sul, onde há gente que consegue jogar latinhas de cerveja nas cachoeiras perfeitas. Deve ser por isso que os mineiros comem quietos, para fazer jus ao ditado popular: "não grite a felicidade muito alto porque a inveja tem sono leve".

Um presente dos céus para Minas foi a ausência de praia, o que desestimula muita gente a visitar o estado. O Rio tem se tornado um caos, assim como algumas cidades do interior do estado. Salvador é destaque na mídia quase todos os dias, da mesma forma que outras lindíssimas cidades onde há praia e por onde ainda não passei, mas desejo, inclusive, por força da imprensa.

Escrevo este texto com o coração na mão, na expectativa de que poucas pessoas o leiam, para não atrapalhar a vida em Minas Gerais com uma multidão de incivilizados que querem visitar o lugar para saber o que há de belo, de prazeroso. Pergunte a um mineiro. Ele não conta, uai! Ele disfarça.

Eu digo o segredo de lá: a simplicidade, as relações honestas e a proximidade com a pureza humana, que se perde em lugares muito "desenvolvidos", como São Paulo e Nova Iorque, onde todos querem visitar porque é "maneiro".

Enquanto todos estamos desesperados com o futuro, com as bolsas de valores, com as profissões do futuro, com o salve-se quem puder, com o mercado autoritário, Minas ainda vive o passado, o passado bom. O mesmo passado que nós rejeitamos. Bom para eles.

Uma coisa, porém, me preocupa. Minas Gerais corre risco. A expansão impositiva do "desenvolvimento" está chegando lá. A indústrias se aproximam e cercam o estado. Com as fábricas, podem chegar também a poluição ambiental, visual, humana, enfim, todo o tipo de dano à saúde e à felicidade. Os laços familiares tendem a se romper em benefício da globalização, da expansão, que condena peremptoriamente o local. A moda é viver o longe, é visitar Paris e os Estados Unidos, porque há muita luz, movimentação, porque há boates de última geração.

Em nome do desenvolvimento econômico, Minas Gerais pode ser um estado para quem for de fora, para os investidores estrangeiros, para os "nobres" do capital. Sem condições financeiras e sem bem-estar, as famílias locais serão obrigadas a se retirar do local de origem, filme já passado e reprisado no Rio, por exemplo.

O processo é muito parecido com a expulsão das chamadas famílias ribeirinhas, as que vivem próximas aos rios. Diversos projetos do Estado criam hidrelétricas, tornando inviável a permanência das famílias, que, acostumadas durante décadas ao pacato lugar, se vêem obrigadas a mudar-se. Para onde? "Danem-se".

O nosso imbecil consumismo joga as famílias ribeirinhas em qualquer lugar sem o mínimo de assistência. Tudo para evitar um apagão industrial e empresarial, o que causaria um prejuízo financeiro muito grande. Já pensou se os índices econômicos nacionais caíssem de forma a contrariar interesses das camadas mais altas da sociedade? As manchetes do mundo inteiro condenaria o Brasil, os investidores teriam receio em aplicar dólares aqui. Não, é muito perigoso. Melhor prejudicar os ribeirinhos, não é mesmo?

Sugiro ao povo mineiro uma tática diferente para combater os invasores, nós de outros estados que só queremos sugar as mineiras e os bens que nos convêm. Ao invés de ser quieto, calado, grite, mas grite que Minas é muito chato, impróprio para o "desenvolvimento". Grite que as empresas terão prejuízos e que ainda há muito a ser explorado no Rio e em São Paulo. Faça com que a falta de qualidade em tudo e o lixo fiquem distantes, muito distantes. Jogue os sanguessugas para longe, retardando ao máximo a ação deles aí.

Evite que o mundo descubra o paraíso perdido e discreto.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Barack Menezes



Peço desculpas à Maitê Proença, mas ela não é mais o meu ídolo. Ainda admiro muito os pensamentos da filósofa (leia a crônica A Filosofia da Maçã e do Bolo de Chocolate), mas tenho um novo herói: Barack Obama. Fui contaminado pela força da imprensa, pelo carisma e pela campanha do 44º presidente dos Estados Unidos. Fui contaminado pela corrente de esperança, de diplomacia e respeito entre raças representados por Obama.

Em meio à crise financeira, à ocupação estadunidense no Iraque, à iminência de outras guerras e à necessidade de alinhamento do "progresso" aos anseios humanos, surge um mocinho no filme da realidade que propõe salvar a mocinha. A cena emociona mesmo, inclusive em terras brasileiras.

Enquanto esperava ontem à tarde a chegada do meu carro coletivo, uma caminhote preta passou com uma grande bandeira dos Estados Unidos lindamente balançada pelo vento. Dado o contexto, só poderia compreender aquele ato de um brasileiro comum como alguém que enxerga no presidente uma nova direção, contrária à ignorância e ao desprezo pela pessoa.

Barack Obama. Esse é o cara. É mais do que o Romário em 1994. É muito mais do que o Garotinho em Campos e do que o PSDB em São Paulo. Michael Phelps é fichinha perto dele. O novo presidente conseguiu a façanha de agradar até o rival político John MacCain, que fez a seguinte declaração após o resultado: "agora Obama é o meu presidente".

Se há pouco tempo Obama era desconhecido, hoje ele é um ícone comparado a Martin Luther King Jr., símbolo da luta pela liberdade e pelos direitos civis.

O fato é que a festa da mídia espetacular e das nações esperançosas (não apenas do povo norte-americano, mas de todo o mundo) vai chegar ao fim. No dia seguinte vem a ressaca e a cobrança das promessas, vem a pergunta a respeito do slogan "yes, we can": but how?

Já conhecemos essa história através do futebol. Se hoje o Ricardo Teixeira demitir o técnico Dunga da seleção brasileira e o Felipão for contratado para assumir o cargo, o Brasil sorri como rico num churrasco de caviar e vinho francês, animado com apresentações de coelhinhas da Playboy. Apenas o nome do novo treinador, porém, não é o suficiente para faturar a Copa.

Ano passado, Mano Menezes foi convidado para apagar o fogo que fritava o Corinthians e conturbava o ambiente da imprensa esportiva paulista e do Parque São Jorge. Mesmo sob muitas críticas, Mano aceitou o desafio. Diziam que seria um suicídio assumir um time desestruturado e sem recursos. O corajoso técnico ignorou as dificuldades e trabalhou firme para colocar o alvinegro novamente na Série A do Campeonato Brasileiro.

Se falhasse, Mano seria considerado um incompetente. Porém, ele obteve êxito e hoje é o herói da torcida, assim como Barack Obama, ainda sem trabalhar, é o meu, pelo menos até o Felipão conquistar outro mundial pelo Brasil.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Saindo do forno

Com tamanha mobilização a respeito da eleição norte-americana, uma crônica sobre o assunto está em andamento.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Momento piada

"O primeiro-ministro Putin foi em Cuba e ficou impressionado com o número de pessoas que usavam sapatos furados, rotos por cima, etc. Perguntou então a Fidel a razão disso.

Afinal, já tinham passado 40 anos de 'melhorias' e as pessoas ainda estavam com sapatos rasgados e maltratados nos pés.

Fidel, indignado, respondeu com uma pergunta:

- E na Rússia, não é a mesma coisa? Vai me dizer que lá toda a gente tem sapatos novos?

Putin disse a Fidel que fosse à Rússia para conferir e que se ele encontrasse um cidadão qualquer com sapatos furados, tinha a permissão para matar o cara.

Fidel mesmo bastante doente, apanhou um avião e foi para Moscou. Quando desembarcou, a primeira pessoa que veio falar com ele, estava com sapatos rasgados e tão furados que pareciam ter pertencido ao seu avô.

Não vacilou.

Tirou a pistola e matou o sujeito. Afinal tinha permissão do seu colega Putin para o fazer...No dia seguinte os jornais anunciaram:

'BARBUDO MALUCO MATA O EMBAIXADOR DE CUBA NO AEROPORTO'."

sábado, 1 de novembro de 2008

Das laranjas

O texto abaixo é do Paulo Coelho (achei pertinente ao momento):

Diante dos problemas que afetam o Brasil, é bom lembrar uma história anônima, recolhida por Neuci Diniz.

Um homem vendia laranjas no meio de uma estrada. Era analfabeto, de modo que nunca lia jornais. Colocava pelo caminho alguns cartazes, e passava o dia apregoando a doçura de suas laranjas.

Todos compravam e o homem progrediu. Com o dinheiro, colocou mais cartazes e passou a vender outras frutas. O negócio ia de vento em popa quando, um belo dia, seu filho - que era culto e havia estudado numa grande cidade - procurou-o:

“Papai, você não sabe que os tempos estão difíceis?” disse o filho. “A economia do país anda péssima!”

Preocupado, o homem reduziu o número de cartazes e diminuiu as encomendas de frutas. As vendas despencaram imediatamente.

“Meu filho tem razão”, pensou ele. “Os tempos estão difíceis”.

Projeto desestimula aproximação dos estudantes à cultura


Que tal fazer uma média com a namorada e levá-la num sábado desses ao cinema, ao teatro ou ao show do Agnaldo Timóteo? Não sei, talvez para assistir ao novo filme do Didi, se é que há novo filme, a uma peça que está em cartaz na cidade ou mesmo se encantar com o romantismo do vereador (Agnaldo é político há muito tempo).

Você deixa de lado a barreira dos poucos recursos financeiros, pede um generoso empréstimo ao pai, à mãe, à avó, à tia, ao tio, que lhe dão uns trocados e garantem o programa do dia. Ah, não pode esquecer a carteira de estudante, para pagar meia-entrada e tomar um lanchinho camarada no McDonald´s no final da sessão.

Quando chegam à bilheteria, você é informado que a meia-entrada não mais existe durante os fins de semana e feriados locais e nacionais. Reação: água no chopp, banho gelado, frustração, tristeza, depressão, vergonha, sem jeito, vontade de enfiar a cabeça numa cratera...

A situação acima pode ser comum caso seja aprovado um projeto do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). A matéria, que já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado , quer pôr fim à meia-entrada para estudantes e idosos que forem ao cinema nas datas descritas no parágrafo anterior. Para outros eventos, como shows do Agnaldo Timóteo, a medida valeria entre a quinta-feira e o sábado.

Além disso, a idéia é revogar a Medida Provisória 2.208, de 2001, que pôs fim à exclusividade das entidades estudantis na emissão das carteiras. Aquelas, se não me engano, cobram até R$ 25 (sim, R$ 25) para que possamos exercer o direito de ter acesso à cultura por um preço razoável, já que a maioria dos estudantes não possuem condições financeiras muito privilegiadas.

Caso você não concorde com o projeto, não faça cerimônia. Mande e-mail para o nobre senador Azeredo (eduardo.azeredo@senador.gov.br) e ligue para o Senado (0800 61 22 11). Ou você vai aceitar pagar entrada-inteira para o show do Agnaldo Timóteo?