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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Paraíso discreto


Torço para que o mundo não descubra Minas Gerais, como descobriu o Brasil, como descobriu a Amazônia e mais recentemente Bonito, em Mato Grosso do Sul, onde há gente que consegue jogar latinhas de cerveja nas cachoeiras perfeitas. Deve ser por isso que os mineiros comem quietos, para fazer jus ao ditado popular: "não grite a felicidade muito alto porque a inveja tem sono leve".

Um presente dos céus para Minas foi a ausência de praia, o que desestimula muita gente a visitar o estado. O Rio tem se tornado um caos, assim como algumas cidades do interior do estado. Salvador é destaque na mídia quase todos os dias, da mesma forma que outras lindíssimas cidades onde há praia e por onde ainda não passei, mas desejo, inclusive, por força da imprensa.

Escrevo este texto com o coração na mão, na expectativa de que poucas pessoas o leiam, para não atrapalhar a vida em Minas Gerais com uma multidão de incivilizados que querem visitar o lugar para saber o que há de belo, de prazeroso. Pergunte a um mineiro. Ele não conta, uai! Ele disfarça.

Eu digo o segredo de lá: a simplicidade, as relações honestas e a proximidade com a pureza humana, que se perde em lugares muito "desenvolvidos", como São Paulo e Nova Iorque, onde todos querem visitar porque é "maneiro".

Enquanto todos estamos desesperados com o futuro, com as bolsas de valores, com as profissões do futuro, com o salve-se quem puder, com o mercado autoritário, Minas ainda vive o passado, o passado bom. O mesmo passado que nós rejeitamos. Bom para eles.

Uma coisa, porém, me preocupa. Minas Gerais corre risco. A expansão impositiva do "desenvolvimento" está chegando lá. A indústrias se aproximam e cercam o estado. Com as fábricas, podem chegar também a poluição ambiental, visual, humana, enfim, todo o tipo de dano à saúde e à felicidade. Os laços familiares tendem a se romper em benefício da globalização, da expansão, que condena peremptoriamente o local. A moda é viver o longe, é visitar Paris e os Estados Unidos, porque há muita luz, movimentação, porque há boates de última geração.

Em nome do desenvolvimento econômico, Minas Gerais pode ser um estado para quem for de fora, para os investidores estrangeiros, para os "nobres" do capital. Sem condições financeiras e sem bem-estar, as famílias locais serão obrigadas a se retirar do local de origem, filme já passado e reprisado no Rio, por exemplo.

O processo é muito parecido com a expulsão das chamadas famílias ribeirinhas, as que vivem próximas aos rios. Diversos projetos do Estado criam hidrelétricas, tornando inviável a permanência das famílias, que, acostumadas durante décadas ao pacato lugar, se vêem obrigadas a mudar-se. Para onde? "Danem-se".

O nosso imbecil consumismo joga as famílias ribeirinhas em qualquer lugar sem o mínimo de assistência. Tudo para evitar um apagão industrial e empresarial, o que causaria um prejuízo financeiro muito grande. Já pensou se os índices econômicos nacionais caíssem de forma a contrariar interesses das camadas mais altas da sociedade? As manchetes do mundo inteiro condenaria o Brasil, os investidores teriam receio em aplicar dólares aqui. Não, é muito perigoso. Melhor prejudicar os ribeirinhos, não é mesmo?

Sugiro ao povo mineiro uma tática diferente para combater os invasores, nós de outros estados que só queremos sugar as mineiras e os bens que nos convêm. Ao invés de ser quieto, calado, grite, mas grite que Minas é muito chato, impróprio para o "desenvolvimento". Grite que as empresas terão prejuízos e que ainda há muito a ser explorado no Rio e em São Paulo. Faça com que a falta de qualidade em tudo e o lixo fiquem distantes, muito distantes. Jogue os sanguessugas para longe, retardando ao máximo a ação deles aí.

Evite que o mundo descubra o paraíso perdido e discreto.

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