"Melhor do que ler a coluna do Veríssimo num domingo ensolarado de manhã, esperando a chegada do café para pular na piscina, é ler o Letras e Harmonia a qualquer hora em qualquer lugar", Zé- operário.



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domingo, 9 de novembro de 2008

A boa de hoje? Política.


Basta navegar um tantinho de nada pelo Letras e Harmonia para perceber o lado político (apartidário) do blog. Isso porque eu gosto bastante desta atividade, não pelas distorções que fazem dela, pelo contrário. É a política que é capaz de mexer com a gente; com a regulação social; que pode baixar os preços dos alimentos e dos livros; que pode criar praças arborizadas nas cidades para promover a qualidade de vida; entre uma infinidade de coisas. Acredite na política.

Quem deve participar das discussões sociais, cobrar as autoridades, que apesar da arrogância, são funcionários nossos, e exigir políticas públicas adequadas? Todos, mas principalmente a juventude, pela nossa essência contestadora. Se a gente delega a qualquer um (e agimos muito assim) a tarefa de fazer política, cometemos um erro muito grave. Entregamos a vida coletiva a quem não merece administrá-la.

Antes de vivermos essa crise financeira mundial, vivemos uma crise humanitária também global, em que o respeito é mais mito do que Papai Noel. Há poucos dias publiquei aqui uma declaração do sóbrio escritor José Saramago. Para ele, o altíssimo volume de dinheiro público (público sim) liberado pelo Estado para salvar bancos não sairia do cofre caso o destino fosse salvar vidas. E não sairia mesmo, como não sai.

A eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos criou o "efeito Obama", que anima os movimentos sociais mundo afora. A África, principalmente o Quênia, origem da família paterna do presidente, está eufórica e esperançosa quanto às eventuais políticas em benefício da região. Por conta do resultado da eleição estadunidense, o governo queniano vai instalar luz elétrica na localidade onde mora a família. Onde carne é luxo, a população local fez churrasco no dia seguinte ao resultado. Um coitado de um boi inteiro foi sacrificado em comemoração à vitória do candidato deles.

A sensação de melhoria está por aí. A emoção nos EUA após o resultado da eleição foi comparada pelo embaixador Alberto Luiz Fonseca, que estava na Califórnia, a um partida de futebol:

"Aí veio o discurso do Obama, eles colocaram som nas TVs, todo mundo no (antes) barulhento bar parou para ouvir. O restaurante estava cheio, alguns ficaram de pé e foram ouvir de perto. Dentro do lugar, comoção geral, um momento histórico para a nação; lá fora, carros buzinando na rua como se fosse dia de jogo de futebol!"

Mas como diz o poeta espanhol Antônio Machado, o caminho se faz caminhado. Barack Obama tem um cardápio de desafios na mesa dele. Ele terá prioridades e precisa desde já saber como encontrar soluções. Quem elegeu Obama foi a população estadunidense, mas o mundo sente que está sob tutela dele (não vejo isso com bons olhos).

Em 2002, quando o presidente Lula venceu e eleição para presidente, uma nuvem de esperança e otimismo parou no Brasil. Logo no início do mandato, ele lançou o Programa Fome Zero e declarou que estaria satisfeito se nenhum brasileiro passasse fome quando deixasse o Palácio do Planalto. Lula vai completar o ciclo de oito anos e muita gente estará ainda em situação ruim.

Certamente Obama também deixará a desejar em muitas questões, porque não é fácil agradar a todos que aguardam uma resposta positiva dele. Há problemas externos, como o relacionamento com a Rússia e com o Irã, além da guerra do Iraque. Há a crise financeira. Há a Rodada de Doha, que não tem saideira. Além disso, há os problemas internos, os mais importantes da agenda, com certeza. Ele é norte-americano, como declarou. Foi eleito presidente dos Estados Unidos e não do mundo inteiro. A função primeira de Obama é recuperar o Tio Sam.

Tanto Obama quanto Lula são incapazes de realizar sozinhos qualquer política Eles são como pontos de referência, mas a sociedade também precisa fazer a parte dela, não apenas lançar as responsabilidades sobre o colo das autoridades. Não se faz política apenas através de cargo eletivo e sendo funcionário do governo. Talvez a parte mais superficial de participação política seja a eleição, porque se inexiste estrutura e modelos confiáveis, transparentes e de credibilidade, pessoas incompetentes e predadoras serão candidatos e eleitos por outras despreocupadas.

Cada um de nós é necessariamente um ser político e recusar este papel é recusar também a existência humana em convívio harmônico na sociedade, que está em construção, em fase de transformações. Essas mudanças vão nos levar a algum lugar. Melhor que seja para onde desejamos.

Um comentário:

Talita Militão disse...

Muito Bom! Minha pergunta é como movimentar um geração para se posicionar politicamente.

Penso que já exista jovens que pensam a política, mas como potencializar esses esforços para que se torne um movimento nacional?

Bruno, mais uma vez parabéns por sua iniciativa em incitar discussões nesse viés político!