"Melhor do que ler a coluna do Veríssimo num domingo ensolarado de manhã, esperando a chegada do café para pular na piscina, é ler o Letras e Harmonia a qualquer hora em qualquer lugar", Zé- operário.



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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O recheio


Deitado no sofá, sem camisa e barriga saliente, Silva aguardava sozinho o telejornal das vinte horas. Estava ansioso para assistir à matéria sobre o deputado federal de Minas Gerais que construiu , na década de 80, um gigantesco castelo, comparado a luxos hollywoodianos.

A esposa dele preparava o jantar: arroz, peito de frango, ovo frito, purê de batata e tutu- a refeição favorita de Silva. Já os filhos, Gabriel e Clara, 12 e 8 anos, respectivamente, brincavam no quintal com Pelé, apelido de um amigo da escola.

O telejornal começou e o apresentador anunciou, já no início, o polêmico castelo. Silva ficou bem atento. Revoltou-se quando o repórter disse que o parlamentar sonegara impostos e não pagava devidamente aos ex-funcionários.

- Que barbaridade! Sem a menor dó e vergonha de roubar de quem precisa. Filho da... Onde está a ética? Cadê a política limpa? Um bando de corru...

Antes de terminar o desabafo, Silva foi interrompido por Gabriel, que segurava uma mala marrom na mão direita.

- Pai, pai, essa maleta é sua?

- Não, filho, por quê? De onde a tirou?

- O Pelé encontrou perto do nosso portão.

- Deve ser de alguém que esqueceu. O dono vai aparecer.

- Vou brincar com ela, enquanto isso.

Gabriel já ia saindo, quando, sem querer, deixou a mala cair no chão. Abriu-se e revelou o recheio: bolos de dinheiro. Notas que variavam entre R$ 20 e R$ 100. Pai e filho ficaram de boca aberta, surpresos. Jamais haviam visto tanto dinheiro.

Antes que alguém dissesse algo, Clara entrou pela porta.

- Pai, tem um moço lá fora procurando por uma mala.

- Rapidamente, Silva aproximou-se de Gabriel e disse em tom de voz baixo:

- Esconde, esconde, filho. Esconde, esconde rápido.

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