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sábado, 27 de junho de 2009

ESTRÉIA: Nossa Prosa


Olá, pessoal!!! Tudo ótimo?

Como eu disse, o Letras e Harmonia apresenta hoje uma novidade. É o "Nossa Prosa", um espaço reservado a entrevistas sempre interessantes ("onde está a modéstia, sr. Bruno?").

Para estrear, entrevistei o jornalista e professor universitário Eduardo Jorge de Oliveira, 40 anos, que está prestes a dar um novo passo na carreira: dia 18 de julho, ele lança pela editora Multitype o livro "A Francesa História do Brasil", em cerimônia realizada no Museu Imperial, em Petrópolis-RJ.

Formado há 19 anos pela Faculdade da Cidade, ele especializou-se em Jornalismo Cultural (2004) pela Universidade Estácio de Sá e fez mestrado em Ciência Política (2005) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Iniciou a carreira no jornal Tribuna de Petrópolis, tendo trabalhado ainda em veículos como na Revista Veja e nos jornais O Globo e O Dia.

Atualmente, o vascaíno Eduardo Jorge trabalha como professor nas universidades UniFOA e Estácio de Sá, onde chegou a ser coordenador de Comunicação Social do campus Petrópolis.
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Fique à vontade para acompanhar o papo:

Como surgiu a ideia de escrever o livro?
Durante uma estadia na França. Conversando com várias pessoas e observando os cenários e práticas sociais, entendi que havia mais afinidades entre as nossas culturas do que se supunha. A pesquisa confirmou isso.

Franceses e brasileiros, no entanto, sabem muito pouco uns dos outros, embora haja diversos pontos em comum na história dos dois países - especialmente os franceses. Eles têm muito pouca informação sobre o Brasil e sobre a nossa história. Considero isso lamentável, porque a França teve um papel decisivo em vários momentos do nosso país.

Quais momentos o senhor destacaria?
Há um dado pouco avaliado no século XVI, por exemplo. Os portugueses colocaram o Brasil em segundo plano durante 30 anos e, "de repente", a partir de 1530, deram início à efetiva ocupação do território. Isso somente aconteceu devido à grande ameaça de perder o Brasil para os franceses.
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Todo o litoral do Nordeste, boa parte do Norte e até mesmo duas capitais (Rio e São Luís) surgiram como núcleos de ocupação exclusivamente devido à presença ou à possibilidade da presença francesa.
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Há outros exemplos curiosos, como a Inconfidência Mineira, tramada na França. Cinco anos depois, no Rio, a metrópole estabeleceu uma devassa sobre um grupo de letrados "apenas" porque eles debatiam princípios iluministas - e um deles chegou a ficar preso durante quatro anos porque tinha em casa um livro de (Jean-Jacques) Rousseau.
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A chamada Revolta dos Alfaiates, na Bahia, começou devido à esperança de que a França iria apoiar a Revolução. Mais tarde, em Pernambuco, os revolucionários de 1817 queriam trazer Napoleão Bonaparte para o Recife. Involuntariamente, Bonaparte já havia ajudado o Brasil quando determinou a fuga da família real, em 1808, o que alterou a balança do poder colonial. O fato é considerado o primeiro passo efetivo para a independência.
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Para terminar, no primeiro reinado, o modelo político, a constituição, os símbolos nacionais etc foram, em maior ou menor grau, definidos pelos modelos franceses. No segundo reinado, a maioria das instituições públicas e privadas, os modos de ser e agir das classes dominantes e campos do saber foram definidos pelo o que acontecia na França ou pelos franceses que se estabeleceram aqui. O processo prosseguiu na república.

O que há de mais interessante e curioso na histórica relação Brasil-França que os livros escolares não informam?
É difícil citar tudo o que inseri no livro, mas ressalto um ponto em particular. O nosso maior símbolo nacional, a bandeira, foi criada por um francês e modificada por outro, sempre obedecendo aos padrões estéticos franceses. É um exemplo, dentre vários, de como se manifestava esta influência.
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É coincidência o lançamento da obra logo no ano da França no Brasil?
Em parte, sim. Tudo começou com a idéia de produzir um artigo, há dois anos. Com a pesquisa concluída ano passado, constatei que o material era muito grande, renderia um livro. Ora, nada melhor do que escrevê-lo para lançá-lo no "Ano da França no Brasil".

Esse artigo chegou a ser publicado?
Não, tornou-se o próprio livro.
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Como foi realizada a pesquisa? Fale um pouco sobre as fontes.

Embora tenha conversado com muita gente, não reproduzi o resultado destes diálogos. Preferi as fontes documentais. Meus "entrevistados" são historiadores e, principalmente, testemunhas e contemporâneos dos eventos analisados. Não há qualquer segredo, todos eles estão publicados em livros e teses.

Como os contatos diretos com os franceses contribuíram para a elaboração da obra?
Quando eu falava a eles sobre personagens franceses na história do Brasil, eles em geral ficavam bem espantados, simplesmente ignoravam que seu país tivesse sido tão importante na construção da nossa cultura. Muitos sugeriram que eu escrevesse a respeito disso.
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Grande parte do olhar cosmopolita deles, muito daquilo que eles entendem sobre o mundo, tem a ver com suas antigas colônias, na Ásia e na África - e o Brasil acaba sendo uma grande incógnita. A rigor, aliás, "A Francesa História do Brasil" é um livro escrito para o mercado francês.

Como você pretende atingir esse mercado?
Embora não seja um especialista no assunto, observo que o mercado francês é muito receptivo a trabalhos que falam da sua história nacional. As vitrines das livrarias de Paris apresentam centenas de títulos a respeito de inúmeros aspectos da história francesa - o que pode não ser uma informação "científica", mas é um bom indício.
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A inserção dos franceses na história do Brasil, na ótica que proponho, é um tema bastante original para o mercado deles.
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Há uma meta estipulada, mesmo informalmente, para a obra atingir, como vender um determinado número de cópias?
Isso tem mais a ver com a receptividade. Estou otimista, acho que poderá ser uma leitura agradável para muita gente, mas qualquer "meta" seria, na verdade, um palpite.

Na Ciência Política, nós observamos uma intensa transferência do modelo político francês não só para o Brasil, como também para o mundo todo. Você não acha que as pessoas, embora vivam isso, deixam de saber as origens e interferências européias no cotidiano político, não necessariamente partidário?
Sem dúvida alguma. As origens das doutrinas políticas, geralmente, são ignoradas. Para agravar, alguns princípios fundamentais de algumas correntes são eventualmente deturpados.
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No Brasil, por exemplo, tais modelos vieram prontos. Devido à inconsistência de propostas locais, foram adaptados às realidades nativas e, muitas vezes, "degenerados" dos seus princípios originais. Ainda observando a história, vamos ter como resultado desta prática, por exemplo, o estabelecimento de uma monarquia constitucional que não foi tão constitucional assim; e uma república, cujas instituições foram estabelecidas não de acordo com as reais necessidades do país, mas apenas e tão somente porque era a realidade na França.
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Não havia ideologia nem compreensão ideológica, apenas o talento da imitação.
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O senhor acredita que atualmente a França ainda seja uma referência decisiva para o Brasil? Podemos dizer que há um país determinante que ocupe tal posição?
Entendo que desde meados do século XX o Brasil já encontrou o caminho de sua própria identidade. Ainda há, é claro, uma influência notável do que acontece no exterior, especialmente em termos culturais. Mas o "monopólio" de influência francesa já foi desmoronado- e é fato que desde o pós-guerra a mentalidade cultural brasileira anda mais inclinada para os Estados Unidos.

De toda forma, porém, neste mesmo período o Brasil e os brasileiros começaram a ver sua própria identidade como algo digno. No caso da arte, por exemplo, passou a considerar que a arte "popular" do Brasil era, sim, de qualidade. Daí é difícil dizer que haja, ainda nos dias de hoje, uma influência estrangeira decisiva, como foi a da França no passado.

"Aquela anedota de os estrangeiros acharem que o Brasil é a capital de Buenos Aires, ou que nas nossas ruas as cobras passeiam livremente, não está muito longe daquilo que os franceses em geral sabem sobre o Brasil", Eduardo Jorge de Oliveira.

Na sua opinião, nós brasileiros também deixamos as nossas marcas culturais lá na Europa, particularmente na França?
Acho que não. Para o francês médio, o Brasil é virtualmente desconhecido e quando, por algum motivo, atinge alguma evidência, ainda tem uma aura "exótica", como se fosse uma terra selvagem. Aquela anedota de os estrangeiros acharem que o Brasil é a capital de Buanos Aires, ou que nas nossas ruas as cobras passeiam livremente, não está muito longe daquilo que os franceses em geral sabem sobre o Brasil.

Há, é claro, iniciativas notáveis - desde a capoeira até grandes pesquisadores radicados na França. Mas não sei se o papel destes agentes é suficiente para que falemos de uma "marca cultural" brasileira na Europa.
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Como o senhor interpreta a cultura francesa? Ela lhe encanta?
As relações culturais são encantadoras independentemente da nacionalidade de quem interage. Não acho que uma cultura francesa seja particularmente encantadora, mas admirável, como são as culturas de outros povos. A rigor, porém, as manifestações culturais que mais despertam interesse vêm daqui mesmo, do Brasil. Afinal, é das nossas encantadoras mentalidades que estamos falando.

Pretende escrever outros livros abordando este tema ou mesmo assuntos variados?
A pretensão é eterna.
No momento, porém, prefiro manter as idéias reservadas.

Quais são os próximos planos na carreira?
Há outros projetos de livros-reportagem, mas ainda é cedo para falar deles.

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